Nessa época do ano, as empresas costumam fazer uma confraternização entre seus funcionários.

Pode ser um simples almoço num restaurante a quilo.

Pode ser um almoço esticado em uma boa churrascaria de rodízio.

Pode ser um cocktail em algum clube ou espaço para eventos, com muita bebida e boa comida.

Pode ser, na maioria das vezes a maior cilada!

Confraternizações entre funcionários existem desde a Revolução Industrial, mas as empresas mais modernas resolveram dar um novo enfoque a esses encontros que visam enturmar pessoas que não têm nada a ver umas com as outras e renovar o estoque de fofocas e micos que serão lembrados e relembrados até a próxima confraternização.

Seguindo o manual americano de “Como botar seus empregados para ralar o fiofó nas ostras e convence-los de que isso é muito estimulante e produtivo”, as reuniões de final de ano agora visam a “integração da equipe”, a “motivação” a “otimização das metas estabelecidas” e outros blablablás do gênero.

Mas o que acontece na maioria das vezes é que , aproveitando esse momento de descontração e  bebidas liberadas, algumas pessoas soltam a franga e revelam seu verdadeiro “eu”.

Um “eu” inconveniente, espaçoso,  às vezes bebum, que fala demais e fala o que não deve.

Um “eu” que resolve dar cantadas em um outro “eu”, e, dependendo do estado etílico do outro “eu”, a cantada poderá ser bem sucedida, para desespero e arrependimento de uma ou de ambas as partes, que depois terão que conviver todo santo dia no ambiente de trabalho, se cruzando com aquelas caras de quem deve dinheiro e aturando piadinhas de bocas de Matildes por séculos e séculos, amém!

Uma boa opção para sair ileso dessa cilada é fingir que está no escritório, só beber refrigerante e ficar com aquela cara de paisagem, rindo das piadas sem graça dos colegas e superiores, dando respostas evasivas às perguntas saia justa e fazendo comentários genéricos sobre tudo e todos. Tipo: “Concordo plenamente!” ou “Pois é, que coisa, não?” ou “Assim como são as pessoas são as criaturas.”

Mas aí que graça tem? Está mais para tortura ou teste de resistência do Big Brother!

Tem também a sábia opção de declinar o convite. Se é um cocktail depois do expediente fica mais fácil. É só inventar um dentista, um exame importantíssimo e inadiável ou um parente doente.

Se é durante o expediente é mais dificil, mas não impossível. É só não ligar a mínima para as caras de alicate dos colegas que acham que você é anti-social.

Graças a Deus eu atualmente presto serviço, então fica mais fácil me livrar dessas roubadas.

Mesmo quando eu trabalhava com carteira assinada não cabia essas confraternizações, pois comissários de voo só se encontram dentro do avião, e quando isso acontece é para trabalhar e não para confraternizar.

Isso não significa que eu não passei por ciladas em finais de ano. Mas é assunto para outro post.

Quando eu era criança, todo fim de ano tinha uma festa para as famílias de funcionários no trabalho do meu pai.

Quem nos levava era sempre minha avó. Não sei se porque minha mãe estava sempre trabalhando nesses dias ou se ela tinha faro para ciladas e caía fora.

Nesses festas, tinha presentes pras criança tudo, Papai Noel, e uma grande mesa de salgados e doces.

Lembro que todo ano eu observava as mulheres se aproximando da mesa com sacolas de papelão, retiradas de dentro das bolsas e enfiando lá dentro todos os doces e salgados que conseguiam alcançar.

Lembro também que eu sempre perguntava para minha avó porque a gente não fazia a mesma coisa, e ficava sem entender a cara amarrada e indignada dela…